Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
Temos pois que a melhoria de Portugal não é mérito próprio mas antes o resultado do alargamento dos testes PISA a um conjunto maior de países pobres, ou em guerra. Eis, pois, o grande milagre.
De acordo com as notícias da imprensa portuguesa o nosso país tem vindo a melhorar substancialmente nos resultados do PISA, apresentando-se já na média. Os políticos do eixo governamental (PS/PSD-CDS) exultam e todos reclamam louros para si. Um reduziu o número de escolas, outro o de professores, outro o dos funcionários e dizem-nos sem escolas, sem professores e sem funcionários o ensino funciona melhor e os resultados melhoram. É um verdadeiro milagre.
A generalidade dos órgãos de comunicação acompanha a festa cheia de orgulho patriótico. Deixamos de estar na cauda do ranking e passarmos para a zona intermédia. Hurra! Lançam foguetes e apanham as canas. Tudo em família e ai de quem discorde.
Mas olhando friamente os dados a principal fonte da nossa melhoria foi a quase duplicação do número de países participantes. Trata-se de países com baixas performances escolares e que fazem baixar a média. Assim hoje participam no PISA países como a Republica Dominicana, as Filipinas, o Panamá, o Kosovo, Marrocos, Geórgia, o Líbano, a Arábia Saudita, o Cazaquistão, e outros que ocupam os últimos lugares dos rankings mas que não participavam quando Portugal ocupava os últimos lugares.
Os países que participaram no primeiro teste PISA eram apenas 28. No ano 2003 participaram no PISA 48 países, no de 2018 esse número subiu para 78 países, i.e. mais 30 países do que em 2003. E destes 30 países a maioria situa-se nos últimos lugares do ranking.
Temos pois que a melhoria de Portugal não é mérito próprio mas antes o resultado do alargamento dos testes PISA a um conjunto maior de países pobres, ou em guerra. Eis, pois, o grande milagre.
No Índice de Leitura, nos dados divulgados em 2003 Portugal situou-se em 27 lugar em 41 países listados. Nos dados recentemente divulgados referentes a 2018 Portugal situou-se em 24 lugar. Ultrapassamos alguns países: a República Checa, Áustria, a Islândia, a Hungria, a Grécia, a Itália e a Suíça. Mas estamos agora atrás de Singapura, de Macau, da China, da Estónia, de Taipei, da Eslovénia. O Liechtenstein que nos dados publicados em 2003 estavam à nossa frente, não participou desta vez. Assim subimos um lugar dos três lugares por não participação de um dos países que estava à nossa frente. Uma subida sem mérito. Por outro lado não foi divulgado o resultado da Espanha que também estava à nossa frente. Outra subida sem mérito. Podemos concluir então que no cômputo geral ficámos sensivelmente na mesma posição, tendo em 15 anos subido efetivamente um lugar no ranking.
Quando ficamos em 27º era o desastre, agora ficamos em 24º porque dois outros países não entraram no ranking é a exaltação. Mas há motivos para celebrar? Infelizmente não. Há motivo para manifestações de orgulho patriótico e para foguetes festivos? Também não.
Assim são as vitórias dos nossos governantes e das nossas elites. Falsas. Ocas. Sem substância. Apenas para os pacóvios verem e deleitarem-se na sua santa e completa ignorância. Uma ignorância que, contudo, não engana ninguém quem olhe de fora para o nosso país e leia os resultados publicados ao longo dos anos. Triste. Muito triste.
Economista