Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Os periódicos portugueses sérios têm de agir junto do Facebook para que os conteúdos por si originados sejam excluídos destes bloqueios irracionais. Uma extremamente simples alteração dos algoritmos resolveria o problema permanentemente como já acontece noutros países. 

 

Uma das principais formas de divulgação dos conteúdos oferecidos pelos jornais online é a partilha que os leitores deles fazem, alertando amigos e conhecidos para os textos de que gostaram, gerando novos leitores.

O modelo de negócios destes jornais assenta na publicidade, que será tanto maior quanto a capacidade de atrair leitores com determinadas características. Impedir a divulgação de artigos no Facebook e noutras redes sociais é desferir uma forte machadada no modelo de negócios dessas publicações.

Vem isto a propósito de uma chamada de atenção de amigos que tendo gostado do meu último artigo "Milagres Estivais" se depararam com a impossibilidade de o partilhar, recebendo esta mensagem "Não foi possível enviar a tua mensagem porque esta inclui conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo".

Parte, mesmo que muito modesta neste caso, maior noutros casos, das receitas de uma empresa como o Jornal de Negócios fica assim nas mãos de um qualquer intolerante que não goste da opinião ou dos factos que são publicados. É inaceitável.

Acresce que são os artigos polémicos e desafiantes que geram mais partilhas e, consequentemente, maiores receitas publicitárias. Mas são também os que geram anticorpos e frequentes bloqueios.

Os jornais perdem receitas, os anunciantes impedidos de chegar ao maior número de potenciais clientes, e o próprio Facebook prejudicado quer na sua imagem pública quer nos seus rendimentos provenientes do tráfico.

Ninguém ganha, pois, com a situação, apenas se dá a satisfação aos intolerantes de reinar sem freio nem respeito pela liberdade de opinião.

Se bem que se perceba o bloqueio de alguns conteúdos de ódio, racismo, incitamento à violência gratuita e ao terrorismo, já não se percebe o bloqueio de artigos de opinião sobre temas económicos ou sobre temas políticos. Muito menos se percebe o bloqueio de artigos publicados por jornais de referência nacional como o Jornal de Negócios em que a exigência editorial é grande.

Os periódicos portugueses sérios têm de agir junto do Facebook para que os conteúdos por si originados sejam excluídos destes bloqueios irracionais. Uma extremamente simples alteração dos algoritmos resolveria o problema permanentemente como já acontece noutros países. Nenhum conteúdo do Financial Times é bloqueado, por que razão, então, se permite bloqueios aos artigos do Jornal de Negócio?

Economista