Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Ridículo seria defender que os americanos descobriram a Lua no final dos anos 60 do século passado, quando tantos e tantas ao longo dos milénios anteriores a desenharam, a idealizaram, a observaram, a descreveram, a cantaram.

Seguramente o primeiro ser humano que emergiu em África há centenas de milhar de anos ao levantar a cabeça à noite viu no céu o planeta satélite da Terra. Estava descoberta a Lua que como se sabe é desabitada.

Ridículo seria defender que os americanos descobriram a Lua no final dos anos 60 do século passado, quando tantos e tantas ao longo dos milénios anteriores a desenharam, a idealizaram, a observaram, a descreveram, a cantaram. Eu próprio quando criança pequena já conhecia a Lua antes de Armstrong aí ter posto o pé.

Os portugueses têm uma expressão interessante para as pessoas que reclamam a descoberta do que há muito se sabe e conhece – "descobrir a pólvora". Esta expressão remete para o ignorante que rejubila, plenamente convencido de ter chegado pela primeira vez a uma descoberta que, na verdade, outros já fizeram antes. É uma suprema prova de ignorância.

Os americanos planearam meticulosamente e executaram rigorosamente uma altamente dispendiosa ida à Lua exatamente porque sabiam da sua existência, porque conheciam a sua localização, porque previam com segurança o que iam encontrar, porque anteviam as vantagens em termos tecnológicos e comerciais desta viagem. Sem nada disso não o fariam. Seria uma loucura irracional tal dispêndio de recursos e risco de vidas humanas.

Assim se passaram as inexatamente consideradas descobertas portuguesas que teimamos em celebrar em museus serôdios, em manuais escolares erróneos, em livros pseudo-eruditos, em cerimónias patrioteiras. Naturalmente só o conhecimento prévio do que se encontraria e do seu valor comercial justificou o empreendimento. O comércio europeu com a Ásia e com África, era já enorme, os produtos asiáticos e africanos conhecidos e apreciados, as rotas, se bem que outras, bem estabelecidas e funcionais.

Os locais habitados por civilizações avançadas, como os Maias e os Incas, as redes comerciais com África e com a Ásia, ambas igualmente povoadas, aí estão para atestar a verdadeira dimensão das descobertas.

Pouco ou nada havia então para descobrir – sem ser no sentido da descoberta da pólvora – pelo que persistir nesta mitologia parece uma megalomania injustificada ou um insulto deliberado.

Einstein descobriu o encurvamento gravitacional da luz. Anos mais tarde Arthur Eddington observou pela primeira vez este fenómeno em São Tomé e Príncipe. Não reclamou a sua descoberta. Teria sido completamente ridicularizado. Sensata e realisticamente apenas reivindicou ter validado o que já se sabia.

Economista