Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Ultrapassa largamente o discurso de muitos que povoam a extrema-direita nacional e europeia e a tanto não se atrevem. Um texto completamente execrável e inaceitável no seu conteúdo.

A reputação é na verdade um valioso ativo intangível e um dos elos mais importantes da relação entre uma empresa, um produto e os seus consumidores. A destruição desse elo normalmente resulta em avultados prejuízos. Daí que a defesa da reputação seja normalmente uma das mais relevantes preocupações da gestão moderna.

Errar é humano, contudo a forma de gerir e reparar os erros distinguem as empresas bem-sucedidas das que o não são. Um exemplo recente ajuda-nos a perceber esta máxima da gestão.

O jornal O Público veio nos últimos anos a estabelecer-se como diário de referência de uma vasta audiência que se revê na igualdade de direitos e de oportunidades para todos independentemente dos credos, cor da pele ou etnias. Jornalistas como Joana Gorjão Henriques, cujo trabalho tem sido notável, muito contribuíram para trazer para a discussão pública inúmeros problemas sociais que afetam diversas comunidades.

Lamentavelmente o jornal publicou recentemente uma crónica unanimemente criticada como racista da autoria de historiadora menos conhecida do que os nossos historiadores - Alexandre Herculano, Oliveira Marques, Isabel Castro Henriques, etc. - respeitados.

Nesse texto a autora promove todos os estereótipos negativos contra a comunidade cigana e concluiu excluindo-os do todo nacional. Em relação à comunidade negra e contra toda a evidência atribui-lhes ódios que não existem, intenções absurdas e características não observáveis e também os exclui da comunidade nacional. Ultrapassa largamente o discurso de muitos que povoam a extrema-direita nacional e europeia e a tanto não se atrevem. Um texto completamente execrável e inaceitável no seu conteúdo.

Perante as inúmeras críticas dos seus leitores e da sociedade O Público veio, pela voz do seu diretor, escrever que se enganou mas em simultâneo afirmar que o texto está "nos limites do discurso de ódio" quando na verdade todos que o leiam facilmente concluem que está para além de todos limites menos os estranhos limites do diretor. Querer estar bem com Deus e o Diabo é tarefa impossível.

Estes dois factos integrados: a publicação do texto e a sua justificação correm o risco de diminuir a reputação de O Público.

Na verdade a publicação de tal texto está em total contracorrente com a postura anterior na qual repousa a sua reputação, pelo que é um erro muito grave.

Perante tal erro a única forma de o redimir aos olhos dos leitores seria o seu completo repúdio e a reafirmação clara da defesa de uma sociedade plural com igualdade de direitos e de oportunidades para todos independentemente dos credos, cor da pele ou etnias. Assumir os erros é o primeiro passo para os corrigir.

Ao não o fazer o diretor permite que a polémica continue e que a reputação do jornal sofra novo revés, mas agora implicando o próprio jornal nas afirmações de Bonifácio.

Eis como uma má gestão de um erro grave, de uma crise, pode pôr em causa toda uma reputação longamente construída. Naturalmente que é possível recuperar. O Público tem os recursos que lhe podem permitir retomar o seu caminho. Seria importante para o país que o fizesse.

Economista