Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Assim a semana dos 4 dias reduz os erros, o custo da correção desses erros, diminui a produção defeituosa, aumenta a qualidade e, consequentemente, a satisfação dos clientes e a produtividade.
 

Um recente estudo feito no Reino Unido mostra que cerca de 75% dos inquiridos apoiam a introdução da semana de trabalho de 4 dias, sem aumento de horário diário e sem redução no salário, e concordam que o trabalho que é produzido em cinco pode ser obtido em apenas quatro.

Várias empresas britânicas deram já esse passo implementando a semana dos 4 dias. Algumas destas empresas conseguiram com esta simples medida aumentos de produtividade na casa dos dois dígitos em poucos anos.

Na verdade um inquérito a 2.000 trabalhadores britânicos revelou que das 8 horas de trabalho diário os empregados referem trabalhar menos de 3 horas, ocupando o tempo remanescente a utilizar as redes sociais, ver as noticias, falar com os colegas, beber café, comer, procurar novos empregos e fazer pausas para fumar. Há, pois, imenso espaço para redução do tempo de trabalho em simultâneo com ganhos de produtividade.

A semana de 4 dias implica menos custos com infraestruturas, escritórios, manutenção de equipamentos, eletricidade, e uma redução dos tempos "mortos".

Por outro lado múltiplos estudos comprovam que a produtividade das pessoas na generalidade das indústrias e dos serviços se reduz acentuadamente após 35 horas de trabalho semanal. Assim a semana dos 4 dias reduz os erros, o custo da correção desses erros, diminui a produção defeituosa, aumenta a qualidade e, consequentemente, a satisfação dos clientes e a produtividade.

Benefícios adicionais da semana dos 4 dias prendem-se com o descongestionamento das estradas, redução das emissões poluentes e melhoria da saúde da população. Estas consequências por sua vez têm também um efeito positivo na produtividade geral da economia. Na verdade mais saúde significa menos dias de trabalho perdidos, otimização da rede viária implica maior rapidez e eficiência no transporte de produtos. Menos poluição permite menores custos de redução de emissões.

O debate está lançado e há opiniões para todos os gostos e interesses. Em Portugal sindicatos, associações profissionais, empregadores, quase todos se afastam desta importante discussão. Esperam que a questão seja dirimida no estrangeiro. É lamentável que deixemos para outros as decisões que moldam o nosso futuro.

A questão que se põe é o que fazer. Provavelmente como em tudo na vida não há soluções universais. Sem dúvida que a melhor resposta se encontra na realização de testes para aferir vantagens e desvantagens.

Seria, então, importante que as empresas portuguesas de grande e média dimensão organizassem testes, limitados no tempo e no espaço, que lhes permitissem quantificar, analisar e concluir se lhes é economicamente vantajoso aderir ou não à semana dos 4 dias.

Olhando o tecido económico português estou convencido que diversas empresas, principalmente na área dos serviços mas também na indústria, teriam muito a ganhar com a aplicação da semana dos 4 dias. Infelizmente essas empresas poderão decidir com base em critérios morais e políticos conservadores em vez de critérios de estrita racionalidade económica, desperdiçando uma oportunidade de ganhar uma vantagem competitiva ao nível da produtividade face aos seus concorrentes estrangeiros.

Economista