Jorge Fonseca de Almeida, Jornal i

Seria interessante perceber as relações que se estabelecem entre certos dirigentes sindicais e as suas entidades patronais e a forma como de trabalhadores passam a empresários, de remediados a exibir óbvios sinais de riqueza.

No mês passado um alto dirigente sindical da indústria automóvel norte-americana, do United Auto Workers, reconheceu ter recebido dinheiro, na forma de um cartão de crédito para gastos mensais de vários milhares de dólares e durante vários anos, da construtora automóvel Fiat Chrysler (FCA).

Este conluio entre alguns dirigentes sindicais e uma ou várias entidades patronais prejudica, naturalmente, os trabalhadores mas também as restantes empresas do setor.

Na verdade, se uma empresa consegue, através de corrupção, um acordo mais desfavorável aos trabalhadores do que os restantes concorrentes, obtém uma vantagem competitiva injusta e fraudulenta. Daí que seja do interesse de todos, trabalhadores e empresas, erradicar este tipo de atuação criminosa.

Compreende-se, assim, o combate levado a cabo pelas autoridades judiciais norte-americanas contra este tipo de corrupção, viciante da negociação sindical.

Em Portugal aparte um escândalo da apropriação de verbas de formação do Fundo Social Europeu por alguns dirigentes da UGT e que culminou na renúncia de Torres Couto ao cargo de secretário-geral da organização, nunca a atuação da Justiça se voltou para a área sindical.

Seria interessante perceber as relações que se estabelecem entre certos dirigentes sindicais e as suas entidades patronais e a forma como de trabalhadores passam a empresários, de remediados a exibir óbvios sinais de riqueza.

A função dos sindicatos é essencial em qualquer sistema económico moderno, para pugnar pelos interesses dos seus associados e pelos dos assalariados no seu conjunto. Sem sindicatos atuantes e honestos todo o poder na negociação salarial passa para as mãos do patronato com evidentes perdas para a toda a sociedade e mesmo para a economia nacional.

Na verdade, se poderem manter os salários artificialmente baixos, as empresas deixam de ter necessidade de se modernizar, de aumentar a intensidade de capital, e à custa de lucros aumentados no curto prazo colocam em risco a sua própria existência no médio e longo prazo. Passam a ter é uma necessidade periódica de baixar ainda mais os salários através de desvalorização da moeda ou através de uma baixa nominal das remunerações. É uma armadilha na qual Portugal tem sistematicamente caído.