Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Ao duplicar, de um dia para o outro, as tarifas do aço e do alumínio e ao impor sanções ao Irão e à Rússia, parceiros económicos da Turquia, os Estados Unidos criaram uma situação explosiva para a economia turca.

Nova crise europeia paira no horizonte. O seu epicentro na Turquia, e as sanções económicas americanas são a sua fonte mais visível.

Esta semana, a Arábia Saudita respondeu às críticas do ministro dos Negócios Estrangeiros do Canadá sobre direitos das mulheres naquele país rico em petróleo e minguado em democracia com a expulsão do embaixador canadiano em Riade e com fortes sanções económicas, incluindo a suspensão de todo o comércio entre os dois países e congelando todos os investimentos mútuos previstos.

No ar paira ainda a ameaça de retirada dos estudantes sauditas das universidades canadianas e a suspensão dos voos entre os dois países. Nenhum dos seus parceiros tradicionais, os Estados Unidos e o Reino Unido, apoiou o Canadá.

Num passo atrás, o primeiro-ministro do Canadá afirmou oficialmente que a Arábia Saudita tem feito muitos progressos em matéria de direitos humanos.

Os Estados Unidos também não hesitam a utilizar as sanções económicas contra países concorrentes ou que procuram manter-se fora da sua esfera de influência. As razões invocadas são múltiplas, desde o terrorismo ao tráfego de narcóticos ou de diamantes, ou simplesmente por razões inexplicáveis de segurança nacional ou de punição de adversários (site oficial norte-americano da entidade que gere as sanções: https://www.treasury.gov/resource-center/sanctions/Programs/Pages/Programs.aspx).

Assim, neste momento, existem sanções económicas contra uma longa lista de países, que inclui os mais tradicionais inimigos ideológicos ou geoestratégicos como a Coreia do Norte, Cuba, Irão e Rússia, mas também contra a Venezuela, a Bielorrússia, o Burundi, a República Central Africana, a República Democrática do Congo, o Líbano, a Líbia, a Somália, o Iémen e o Zimbabwe.

Adicionalmente existem sanções específicas contra pessoas concretas de variados países acusadas, mas não julgadas ou condenadas, de violações dos direitos humanos, de corrupção, de tráfegos diversos, etc.

Mais recentemente, os Estados Unidos iniciaram um tipo de sanções não tão abertamente hostis, mas igualmente destrutivas do tecido económico e social, que se estendem até aos seus próprios aliados.

O aumento unilateral, inesperado e exponencial de tarifas alfandegárias, capaz de impedir a importação de múltiplos produtos e matérias-primas, tem sido a forma declarada destas verdadeiras sanções económicas contra tradicionais aliados.

Este novo estilo de sanções foi aplicado de forma draconiana a um concorrente, a China, e a aliados tradicionais como a Alemanha e a Turquia.

Note-se contudo que no mundo interligado de hoje as sanções a um país não afetam apenas esse país, mas todos os outros com os quais mantém relações económicas. Portugal não diretamente visado, pode sofrer bastante em consequência das sanções à Alemanha e à Turquia.

Veja-se o que a desvalorização da lira turca está a fazer à economia desse país e por arrasto ao sistema financeiro europeu. Um desastre que se pode revelar precursor de uma nova crise de grandes dimensões na Europa.

Na verdade ao duplicar, de um dia para o outro, as tarifas do aço e do alumínio e ao impor sanções ao Irão e à Rússia, parceiros económicos da Turquia, os Estados Unidos criaram uma situação explosiva para a economia turca. Em simultâneo, com a duplicação das tarifas aduaneiras, Trump incluiu dois ministros turcos, o ministro da Justiça e o ministro do Interior, na lista de pessoas sob sanções.

A inflação está a disparar, bordejando os 20%, as taxas de juro acima dos 15%, lira a perder valor, o desemprego a aumentar. Não tarda que a dívida pública e a dívida externa estejam sob ainda maior pressão. A crise económica está instalada. Credores exigem já medidas de austeridade.

O facto de a Turquia ter previstas eleições para Junho do próximo ano leva muitos analistas a supor que o aumento das tarifas imposto por Washington é uma forma de interferência na política local e mais uma tentativa de afastar a liderança de Erdogan.

Uma lição a aprender com estes casos. A arma económica é terrível. Por isso, devem os países procurar a maior autonomia possível.