José Ferreira, Visão online,

Precisa-se urgentemente de um despertar de consciências!

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Num país de faz de conta, onde todos são corruptos, desonestos e desleais, havia uma pequena aldeia de habitantes íntegros, honestos e leais.

Esta pequena povoação, apesar da opressão contínua do déspota lá do burgo, insistia em resistir, intransigentemente, mantendo-se não só fiel ao seu estilo de vida como procurando, sempre que possível, tentar fazer ver aos outros que uma realidade diferente era possível.

Apesar de serem poucos em número, eram resilientes quanto baste, e sempre que era possível, lá se expressavam e apresentavam mil e uma razões, mil e uma sugestões e mil e uma formas de combater a corrupção, a deslealdade e a desonestidade.

Perguntar-se-á o leitor por que motivo insistiam em, contra todos os ditames da sua sociedade e época, ser diferentes e não alinhavam, tipo “Maria vai com as outras”, em seguir aquilo que parecia ser a norma social.

A resposta, por muito complexa que possa parecer, é de facto bastante simples: porque foram educados assim. Porque lhes foram transmitidos, na família e na escola, valores diferentes. Porque cresceram assim, numa povoação onde todos se esforçam por ser honestos e onde os pares não têm medo de apontar o dedo e identificar os prevaricadores, responsabilizando-os e censurando-os.

Nesta complexa teia de relações sociais, existia uma preocupação com o bem-estar para além do “eu”, bem contrária aos tempos que vivemos.

Estamos assoberbados com tanta oferta de bens e serviços, com tantas estratégias de marketing e vendas, muitas delas que transpõem a legalidade, outras que, no mínimo, roçam o limiar da moralidade e da ética empresarial e concorrencial, que nos esquecemos de valores tão simples como a honestidade e a integridade.

Os desequilíbrios – económicos e sociais – que esta lógica empresarial e concorrencial provoca estão à vista.

Este capitalismo quase selvagem tem desbravado caminho sem olhar a meios nem a custos, sociais ou humanos.

A fraude, o engano e os vários crimes económicos fazem parte do dia-a-dia, atualmente já tão banais quanto naturais aos olhos do Homem.

Os grandes grupos económicos ditam (leia-se impõem) as leis do mercado, pondo e dispondo de leis, pessoas e bens a seu bel-prazer. Imbuídos de um espírito puramente economicista, usam e abusam de todas as técnicas para fomentar o consumismo desenfreado.

Não passa um dia sem que os jornais publicitem um qualquer escândalo económico, um banco que foi apanhado em negócios menos transparentes, um político que “ajudou” a empresa de um amigo, um negócio que afinal foi ruinoso para os cofres do Estado, uns milhões que foram depositados em contas offshore, um ou outro favor que foi feito por um qualquer titular de cargo político. Contudo, poucos se debruçam sobre a questão principal: quem paga a fatura?

Quem paga, no fundo é cada cidadão, que vê o nível de vida deteriorar-se a cada dia que passa, os impostos escalarem, a dívida pública crescer e que, no fim do dia, serenamente, se resigna e vê que tudo vai continuar na mesma e que amanhã será mais um dia, igual a tantos outros, com o mesmo estado de coisas, com os mesmos atores e seu séquito.

Precisa-se urgentemente de um despertar de consciências!

A consciencialização das massas é de facto o caminho. Não basta questionar, é preciso fornecer alternativas. Não basta identificar os problemas, é preciso apontar soluções. Não basta acusar, é preciso julgar em tempo útil e condenar vigorosamente quem transgride.