Raquel Brito, Visão online,
É essencial dar voz a estas vítimas, pelos mais diversos motivos, mas, fundamentalmente porque são importantes na investigação e estudo deste tipo de delito.
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Adensa-se o discurso sobre esquemas fraudulentos e crimes de corrupção, nomeadamente conflito de interesses, esquemas com offshores, operações financeiras fraudulentas... Muitos (ainda que insuficientemente) pronunciam-se sobre as causas e respetivas consequências da fraude, inúmeros exemplos são minuciosamente relatados pelos mais diversos meios de comunicação social. Somos, diariamente, presenteados com imagens e notícias dos mesmos (alegadamente) corruptores e respetivos corruptíveis, tornando-se os seus rostos mais familiares que os rostos de alguns “primos afastados”. E estes senhores, corruptores e corruptíveis, com tempo de antena, são os protagonistas da história, são os protagonistas da comunicação social, são os protagonistas do país. Explicam-se, reclamam justiça, dão conferências, têm os holofotes apontados a si e aproveitam bem o seu tempo de antena.
Na verdade, e mediatismos afastados, é essencial uma abordagem multidisciplinar no estudo da fraude e da corrupção, sendo fundamental perceber o que leva alguns de nós (cada vez mais!) a praticar estes atos, sendo necessário saber que causas determinam semelham efeito. É igualmente importante, conhecer o (s) efeito (s) que a (s) causa (s) provoca (m), ou seja, que consequências resultam da fraude e da corrupção. Poderíamos, ainda, numa outra perspetiva, partir para a análise destes indivíduos: Que traços reúnem comummente entre si? Quais as suas motivações? Que características socioeconómicas partilham?... E ainda, numa abordagem mais pragmática, o estudo poderia incidir nos casos julgados: Quantos foram condenados? Quais os delitos punidos? Quem são estes condenados?
Mas, e as vítimas destes delitos, destas fraudes? Quem são? Muito provavelmente todos nós! Será, provavelmente o leitor destas palavras…Presumivelmente, quem vê e ouve notícias será vítima de alguma fraude. Coloca-se a questão: e que tempo de antena terão os defraudados?
É essencial dar voz a estas vítimas, pelos mais diversos motivos, mas, fundamentalmente porque são importantes na investigação e estudo deste tipo de delito. É importante perceber que se, no panorama geral do fenómeno criminal, as vítimas passaram a ter um justo papel na investigação, no que se refere à fraude e corrupção não poderia deixar de ser diferente.
As experiências das vítimas de fraude e de outras formas de crime de colarinho branco têm efeitos mais devastadores sobre as vítimas do que a criminalidade de rua, mas no entanto, as vítimas de fraude dispersam, a sua grande maioria não se encontra organizada. Acresce ainda a particularidade de, frequentemente, ocultarem o crime de que foram alvo por se sentirem constrangidas, procurando de certa forma garantir uma desejabilidade social.
Existem múltiplos fatores de risco associados às vítimas de fraude, como por exemplo, determinados traços de personalidade característicos das vítimas de fraude pessoal, a ganância e a ingenuidade, a negligência, a falta de informação, a tendência a assumir comportamentos de risco.
Subsiste alguma informação e destaca-se a sua relevância, contudo, frequentemente a informação divulgada é unilateral e incompleta.
Incompleta porque não interessa apenas falar dos defraudadores e das vítimas
É preciso compreender como estes acontecimentos estão incrustados no funcionamento das instituições e do sistema económico e político. Estes temas não devem ser encarados com leviandade, são estas relações diárias que determinam muitos dos insucessos (maiores ou menores) a que assistimos na vida politica, social e financeira, obviamente, com as respetivas consequências.
Nos dias de hoje é importante que as empresas (públicas ou privadas) se dotem de mecanismos de controlo, bem como de políticas de prevenção neste âmbito.
Obviamente qualquer contributo cientifico é de todo fundamental para a deteção, combate e prevenção dos fenómenos em qualquer área, criminal, social, económica, e restantes, acresce no combate à fraude a necessidade de liberdade cidadã, bem como uma democratização política e económica global.