José António Moreira, Visão online,

 

se nos dotarmos de uma boa dose do que eu denomino como ‘teorias da desculpabilização’, os dois membros do ‘staff’ podem ser vistos como ‘vítimas da sociedade’.

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Nos últimos dias, não se tem discutido outra coisa que não seja a demissão de membros do “staff” governativo por terem declarado falsas habilitações académicas. Lamentável, em múltiplos aspetos. Primeiro, os casos têm contornos de fraude, por via da falsificação de elementos da respetiva identidade, com vista à obtenção de potenciais proventos próprios (pelo menos ao nível da imagem); segundo, é difícil perceber por que razão alguém mente sobre algo que nem sequer é legalmente impeditivo do exercício das funções para que foi nomeado; terceiro, é nojenta a chicana política que está associada ao caso, e a que se é forçado a assistir, em que os argumentos que cada parte usava há algum tempo atrás viraram o seu contrário, para acomodar o facto de agora estarem dentro (fora) do governo do país; quarto, é chocante ver os ministros e secretários de estado que tutelavam os autodemitidos declararem, sem corar de vergonha, desconhecer o percurso académico das pessoas que escolheram e nomearam.

Porém, se nos dotarmos de uma boa dose do que eu denomino como “teorias da desculpabilização”, os dois membros do “staff” podem ser vistos como “vítimas da sociedade”. Sim, vítimas de uma sociedade que

  1. valora títulos académicos acima das competências pessoais, discriminando entre quem tem um “dr.” antes do nome e quem não tem;
  2. ainda não conseguiu controlar o flagelo do abandono escolar, de que os dois referidos membros são um exemplo concreto.

É assustador pensar nos rios de tinta e nas horas de espaço de antena que já se gastaram a discutir estes casos, e nos que ainda se gastarão, quando há tantas coisas verdadeiramente importantes que o país necessita de discutir …