Pedro Moura, Jornal i Online

Esta substituição do Homem pela Máquina deveria ser entendida como um bom sinal, pois significa a capacidade de satisfazermos as necessidades materiais da humanidade com menor necessidade de trabalho humano

Um estudo (1) muito citado estima que durante os próximos 20 anos, 47% das profissões atuais deverão desaparecer, substituídas por algum tipo de automatismo tecnológico (software, robots, etc), criando um inevitável rasto de desemprego: o emprego está a ser destruído mais rapidamente que está a ser criado.  Os valores enchem o olho e são largos o suficiente para merecerem alguma reflexão e debate. Até porque é um fenómeno que vemos a acontecer ao nosso lado, já hoje.

Esta substituição do Homem pela Máquina deveria ser entendida como um bom sinal, pois significa a capacidade de satisfazermos as necessidades materiais da humanidade com menor necessidade de trabalho humano, hipoteticamente libertando o ser humano do jugo do ‘trabalho forçado’ para outros trabalhos de ordem mais elevada.

No entanto não parece ser esse o caso. A organização social, económica e política continua a ser baseada no ‘Mito do Pleno Emprego’, essa distopia cada vez mais distante, alimentada por políticos pouco criativos e ainda menos dispostos a mudar o status quo, em que o objetivo último da sociedade é que todos os cidadãos não só estejam (todos) empregados em ocupações remuneradas, devidamente pacificados através do consumo e do lazer infindos, mas também com um pânico constante de poderem vir a ficar desempregados.

Choca observar a atitude de responsáveis políticos e de outras forças com responsabilidades sociais, que longe de trazerem esta temática para o espaço público e de abrir espaço à discussão de caminhos para esse futuro incerto, insistem avidamente não só na ignorância deste problema, mas sobretudo nas promessas de ‘Pleno Emprego’ para todos.

Há já várias ideias de como lidar com esta diminuição futura de emprego devido à tecnologia, desde a diminuição do tempo trabalhado por pessoa até à atribuição de um Rendimento Básico Garantido (2), passando por uma valorização real de trabalho atualmente não remunerado (como suporte familiar ou voluntariado, por exemplo).

Este é talvez um assunto sério demais para ser deixado (só) para os políticos. A mudança no mercado de emprego no sentido de substituição de pessoas por tecnologia está aí, a acelerar, e precisa de ser encarada de frente e discutida, sob pena de colapsarmos sob o “Mito do Pleno Emprego” e perdermos o futuro da nossa sociedade nas tensões resultantes do confronto entre as elites que dominam a tecnologia e/ou o capital, e a população em geral, progressivamente mais desempregada, desamparada e raivosa, eventualmente a culpar erradamente outros por lhes ‘roubarem o emprego’.

(1) - Frey & Osborne, "THE FUTURE OF EMPLOYMENT: HOW SUSCEPTIBLE ARE JOBS TO COMPUTERISATION?”, http://www.oxfordmartin.ox.ac.uk/downloads/academic/The_Future_of_Employment.pdf

(2)- http://www.huffingtonpost.com/scott-santens/why-should-we-support-the_b_7630162.html