Alda Correia, Visão on line,
Será que a fraude aumentou assim tanto ou a perceção generalizada de que ela existe? Esta é uma questão para a qual ainda não encontrei respostas convincentes
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Falar de fraude hoje em dia é como falar de futebol - toda a gente fala, discute, dá sentenças e estabelece táticas para o seu combate, mas poucos são aqueles capazes de ter um plano rigorosamente definido.
Todos temos a solução para combater a fraude e até discutimos em mesas de café estratégias próprias.
O termo “fraude” passou a ser recorrente nas notícias e um tema muito explorado no jornalismo de investigação. Mas será que a fraude aumentou assim tanto ou a perceção generalizada de que ela existe? Esta é uma questão para a qual ainda não encontrei respostas convincentes e provavelmente não é de resposta única. Teremos hoje melhores sistemas de controlo que nos permitem detetar mais fraudes? A crise económica estimula a fraude? Em tempos de crise, o cidadão comum está mais predisposto para cometer fraude?
Os exemplos que têm vindo a público demonstram que em tempos de crise, as fraudes cometidas ao longo de anos a fio são mais fácil e frequentemente denunciadas. E todos suspiramos de alívio pensando que finalmente se começa a tomar uma atitude de verdadeiro combate à fraude e punição de quem infringiu a lei…
A questão é que passamos do “oito para o oitenta”. Não há setor que não tenha sido beliscado por uma qualquer notícia de suspeita de fraude. Figuras públicas e entidades anónimas (algumas passam até a figuras públicas por conta das fraudes cometidas) são protagonistas de casos deste tipo de casos.
O reverso desta medalha parece ser uma crise de valores e referências, a qual pode, sem dúvida alguma, agravar os níveis de fraude - se todos o fazem, porque hei de ser eu o único a não o fazer?
Parece que hoje em dia é mais fácil acreditar em boatos que se espalham colocando alguém como pessoa de má índole, que se aproveitou de determinada situação para obter benefícios ilegítimos, do que em valores como integridade, honestidade e justiça.
Eu sempre desconfiei dele! Como é que nunca desconfiou de nada? Não vive neste mundo?! – esta é a reação cada vez mais frequente. Não se é sensato se não se desconfiar das pessoas e dos sistemas. E a desconfiança chega até a atacar os controlos de prevenção, deteção e punição de fraude. Todos queremos que a justiça seja aplicada, mas a nossa desconfiança nem sempre nos permite reconhecer o mérito da justiça sem qualquer reserva.
Contudo, ficamos sempre chocados quando alguém tem esta reação em relação a nós…Trabalhar nos sistemas de controlo de fraude é fundamental, mas não estará na altura de trabalhar nesta crise de valores?