Henrique Santos, Visão on line,

Na vida (e na morte, quem sabe) tudo é relativo. E se tudo é relativo, também a fraude o é.
O que hoje é fraude, amanhã já pode não o ser. O que ontem foi fraude, talvez hoje não o seja mais. Neste prisma, podemos mesmo exemplificar com a evolução legislativa e, portanto, dependemos desta para saber se determinada ação é, de facto, considerada fraude, ontem, hoje ou, quiçá, amanhã. Estamos perante uma relatividade temporal (não legislativa).
O que é considerado fraude em Portugal pode não o ser em Marrocos, ou o que é considerado fraude na Bélgica pode não o ser no Mónaco ou em Andorra. Estamos perante uma relatividade geográfica (e não só).
Depois, há ainda aquela fraude que é vista aos olhos de uns como o sendo (sentindo-a como tal), e aos de outros como não o sendo, mediante crenças, usos e costumes. Estamos pois, perante uma relatividade psicológica da fraude (baseada na perceção de cada um).
Mais à frente, encontramos aqueles para quem a fraude é um meio para atingir os fins (sempre dignos e superiores), e outros para quem, independentemente dos fins (mais ou menos dignos, mais ou menos importantes), a mesma nunca será um meio, e jamais um fim. Aqui fala-se da relatividade funcional da fraude. É fácil perceber a razão (verificar se a fraude funciona, ou não, como um meio).
Lá para o fim, surge aquele ato que classificamos como fraude (quando nos interessa), e exatamente o contrário quando não nos interessa. Isto é, classificamos um ato como sendo fraude quando vamos ser prejudicados com o mesmo (ou não vamos ser beneficiados), e classificamos o mesmíssimo ato como não sendo fraude, quando isso nos é mais vantajoso ou menos penoso. Aqui estamos perante a relatividade egocêntrica da fraude, quase equivalente à velha máxima “o que é meu é meu, o que é teu é meu”.
Estamos pois (desculpem a generalização), a relativizar a fraude, tal como o fazemos com a democracia. Recorrendo mais uma vez ao discurso metafórico, não preciso de ir mais longe: Dizia o pai do amigo de um amigo meu: “Não há ninguém que seja mais a favor da democracia do que eu, e na minha casa é a democracia que reina, desde que façam tudo o que eu quero...!”
Como certamente já perceberam, tudo o que foi escrito anteriormente não faz qualquer sentido, não tem lógica, nem aderência à realidade! Pior, é um conjunto de barbaridades mor, que mais não pode significar do que alguém não ter nada para fazer. Até prejudica os que vão ler o texto, é algo que não acrescenta valor. Certamente servirá só para [des]valorizar quem o escreveu.
Pois têm razão, é este o silêncio da fraude que todos os dias nos entra na pele e, pior, que todos os dias nos sai dela. Isto sim, é a fraude… não faz sentido, não tem lógica, mas existe!

- Calem-se?!
Fez um gesto estranho com a face, como quem estivesse a estranhar a expressão. Continuou a magicar e a encarar a realidade com a mesma ilusão que ia construindo à sua frente. Preferiu ir ao circo, que fazer parte dele!
Será que estar na plateia do circo também não será fazer parte dele? Pensou.