Paulo Vasconcelos, Visão on line,

Albert Einstein afirmou um dia que “A imaginação é mais importante que o conhecimento, pois enquanto o conhecimento define tudo o que conhecemos e entendemos, a imaginação leva-nos para tudo aquilo que podemos ainda vir a descobrir e a criar” (tradução livre).
Sendo um cientista brilhante, esqueceu-se que existe um cantinho à beira-mar plantado onde a imaginação é tão fértil e o conhecimento tão escasso
Mas porquê Einstein?
Porque, para além da afirmação acima referida, a sua fórmula matemática mais conhecida é E=M.C2, isto é, a energia é igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade (da luz no vazio). E cá está a palavrinha mágica – energia.
Ora imaginação não falta aos nossos governantes e à elite dos gestores, que, em associação, congeminaram os Custos de Interesse Económico Geral, de acrónimo CIEG. São, de acordo com informação recolhida na ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos), sobrecustos com a produção em regime especial, com a produção em regime ordinário e as rendas pagas aos Municípios.
Bom, a imaginação fértil deste binómio “governantes - elite de gestores”, produziu que o preço da eletricidade (P) paga pelos consumidores seja composto não por um, mas por três custos: o da energia (E), o das redes (R) e o dos CIEG: P=E+R+CIEG. Portanto, o preço da eletricidade é igual à soma dos preços da energia, das redes e dos CIEG. Fórmula quase tão brilhante como a de Einstein, não acham?
Mas a relação é um pouco mais complexa. Para ser mais preciso, para além destas três parcelas, acresce ainda o recente Imposto Especial de Consumo de Eletricidade (IECE) e a taxa de exploração (DGEG), tudo apimentado com a nova taxa de IVA de 23%. Mais ainda, acresce a contribuição audiovisual a uma taxa de IVA, mais generosa, de apenas 6%. O imposto especial é por causa da crise. A contribuição audiovisual é uma espécie de taxa moderadora para a televisão e rádio, compulsiva e universal, sendo um castigo que vem de longe. Sim, porque a televisão e rádio públicas exercem a sua atividade em ambiente concorrencial … na interpretação do “binómio”, a publicidade não chega e é preciso subsidiação. Para quem lá trabalha haverá supressão dos subsídios de férias e natal? Redução de até 10% nos salários?
Voltando à fatura, isto faz com que praticamente metade do custo com eletricidade para uso doméstico seja para subsidiar as empresas produtoras e não para pagar a energia elétrica consumida. Da última fatura que paguei, no valor de 154,79 euros, 75,81 euros foram para esmolas …
Esclarecidos quanto à imaginação, abordemos a questão do conhecimento. Para que todos possam conhecer o que se passa, foi publicado em Diário da República n.º 44/2011, de 22 de Junho, a Lei que cria no ordenamento jurídico os mecanismos necessários a proteger o utente de serviços públicos essenciais. Portanto, antes não era dado conhecimento do que se passava… O Artigo 9.º, ponto 4, obriga a “Quanto ao serviço de fornecimento de energia eléctrica, a factura … deve discriminar, individualmente, o montante referente aos bens fornecidos ou serviços prestados, bem como cada custo referente a medidas de política energética, de sustentabilidade ou de interesse económico geral …, e outras taxas e contribuições previstas na lei.”
Ora, quando os imaginativos se vêm obrigados a faturar de forma discriminada os sobrecustos, ou melhor dizendo os abusos, novamente encobrem o conhecimento com mais uma dose de imaginação. Sim, porque para os imaginativos, a publicitação de forma discriminada consubstancia-se num asterisco à frente da rúbrica “Total” da fatura que remete para uma espécie de nota de roda pé onde se menciona que “O valor indicado inclui os encargos relativos a acessos às Redes no valor de 75,81 euros. (Valor independente do comercializador). Os custos de … (CIEG) incluídos no Acesso às Redes correspondem a 39,68 euros. Os valores indicados não incluem IVA“. Informação retirada da “minha” fatura complicada, com fórmula de cálculo complexa, estranha e tudo menos transparente! Será isto a forma discriminada de apresentar os custos a pagar?
A bela e simples fórmula de Einstein dá uma equivalência entre massa de um corpo e a sua energia; foi com esta equivalência que se construiu a bomba atómica e se observou a intensidade da sua explosão. Por seu lado, a bizarra e complexa fórmula do “binómio” dá uma relação entre massa monetária a pagar de forma desproporcionada em função da energia elétrica consumida e não consumida. Poderá ser esta fórmula a bomba que provocará a implosão destes abusos? Provavelmente não. Certamente que não.