Paulo Vasconcelos, Visão on line,
A famosa expressão de Obelix, criado e celebrizado por Albert Uderzo e René Goscinny, “Ils sont fous ces romains”, poderia ser adaptada, inabalavelmente à nossa realidade por uma expressão do Zé Povinho, desenvolvido e notabilizado por Rafael Bordalo Pinheiro, “Estes portugueses são loucos!”
Onde se escreve “... se a Madeira tem um buraco, o continente tem uma cratera”, pura e simplesmente apague-se pois do que loucos dizem não há necessidade de deixar registo. Perante nova maioria absoluta, acrescente-se sempre “estes portugueses estão loucos!”. Sim porque não se trata de insulares nem continentais, trata-se de portugueses.
Quanto ao conjunto de notícias do tipo “Autoridades nacionais responsáveis pelo apuramento das estatísticas das Administrações Públicas, consideram grave a omissão de informação, garantindo que não têm conhecimento de casos similares”, todas elas carecem de complemento do tipo “ … PGR iniciou de imediato um inquérito-crime e reguladores serão responsabilizados por não terem desempenhado as suas funções”.
Os que fazem buracos em nome do interesse nacional, devem ser acolhidos na depressão que mandaram cavar; aqueles que pagam, e que serão sempre aqueles que pagarão, devem ser reconhecidos pois são eles o núcleo do motor nacional. Como nunca se escreve neste sentido, queiram por favor considerar esta frase como omnipresente ao longo de todo o texto.
Onde se tem escrito “Resgate de bancos com o dinheiro de quem trabalha e poupa …” deve escrever-se “Resgate do dinheiro de quem trabalha e poupa, e responsabilização civil e criminal de gestão danosa e em proveito de alguns”.
Certamente o caro leitor sente o porquê de uma crónica deste tipo ter lugar num cantinho dedicado à fraude; caso não seja o caso, tomo a liberdade, de o abanar e tentar acordar.
Os que podem ser escolhidos para nos governar, governam para alguns; estes são exatamente aqueles que têm o condão de os fazer elegíveis. O sistema perpetua-se. Porque temos uma democracia representativa, somos dominados pelos partidos e lobbies que preparam os líderes. Movimentos civis, ou são desconsiderados ou são aniquilados absorvendo, por ilusão e soberba, as suas figuras de proa, propondo-os para destacadas posições ou para cargos, embora menos visíveis, muito mais interessantes e rentáveis.
Estes movimentos civis, que emergem cada vez mais por todo o mundo, são um grito de desespero das populações.
Mas o estado não pode suster toda a economia, tal como Obelix sustenta o menir que transporta. A população tem de perceber que terá de perder qualidade de vida se quer passar um testemunho de esperança e dignidade às próximas gerações. Por seu lado os novos têm de perceber que é apenas com trabalho que conseguirão desenvolver o produto que os seus antecessores lhes deixaram. Ambas as partes devem perceber que o paradigma se alterou. São cada vez menos os novos para cada vez mais velhos. Se a isto se acrescentar o desincentivo ao trabalho por proliferação de subsídios, temos a situação insustentável a que chegamos.
Não estamos sós, vivemos num mundo globalizado e partilhamos um espaço de referência na Europa. Mas desde 1974 já recorremos a ajuda externa por 3 vezes! Estes portugueses estão loucos!
Irrita também esta coisa de “bom aluno”. É certo que se precisamos de uma injeção de dinheiro, temos de aceitar as regras do jogo: dar o rabinho para a picada. Agora, autoflagelarmo-nos com a administração em mais umas quantas injeções para além da que nos é prescrita e badalar bem alto pelo mundo que fazemos mais do que nos impõem …. é ridículo. Estes portugueses estão loucos!
Até o que todos dizem estar bem, o nosso Sistema Nacional de Saúde, está a ser ameaçado e liquidado com saúde privada e para alguns em organismo de saúde onde o diagnóstico e o tratamento ao ilustre paciente são feitos com um menu de restaurante: o preço está sempre do lado direito do prato. A grande maioria dos hospitais privados é da banca! Mas a banca não serve, por construção, para guardar as poupanças dos seus depositantes, premiando-os, e para dinamizar a economia? Pretende-se um melhor e menor estado... Está-se a fazer pior e maior banca...
Demos a conhecer novos mundos ao mundo, é o que sempre se diz para animar a malta. Mundo que, por seu lado, é governado não pelas leis da física e da biologia, mas pelas leis do mais forte, de uma ideologia egocêntrica e de perpetuação do poder. A insensibilidade destes “alienígenas” que se julgam a nata do leite é chocante; quando era miúdo, após ferver o leite, espetava o dedo na nata, retirava-a e mandava-a pelo sifão abaixo.
Não há pachorra para uma errata tão persistente e longa. Viver está a tornar-se difícil para alguns e um pesadelo para muitos, mas um paraíso para uma minoria ridiculamente pequena. Espetemos-lhes o dedo...