Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

 

Segundo a lógica simplista de alguns profetas da desgraça os robôs vão substituir a mão-de-obra humana, levando à ruína do Estado Social e da Segurança Social e tornando inúteis milhões de seres humanos cuja vida deixaria de ter sustento nem viabilidade.

A verdade porém é muito diferente. De uma perspetiva histórica o número de pessoas à face do planeta tem vindo a sempre a aumentar desde que os primeiros seres humanos emergiram em África. E esse aumento acelerou-se com a revolução industrial, exatamente aquela que veio substituir o trabalho humano por máquinas! De facto foi a revolução tecnológica que permitiu à Humanidade crescer e multiplicar-se a grande velocidade no último século, mesmo apesar de duas mortíferas grandes guerras e de conflitos armados permanentes.

Se olharmos para as últimas décadas, marcadas por crises económicas prolongadas e avanços tecnológicos gigantescos, o que verificamos é que em termos globais a percentagem da população ativa a trabalhar é constante. Naturalmente que o desemprego cresce em alguns países e desce noutros, como há países que no meio desta grande explosão demográfica vêm a sua população estagnar ou mesmo diminuir (como tem sido o caso de Portugal).

Tal como o carro, a eletricidade, a computorização, levaram milhares ao desemprego, o número de postos de trabalho criados por estes avanços imensamente maior. Cada avanço tecnológico alarga o mercado de trabalho. E assim será também com os robôs. Tal como o foi com a máquina a vapor, o motor de combustão, a eletricidade, etc..

Mas como o trator eliminou o arado puxado por animais e diminuiu o emprego agrícola, como o computador acabou com a profissão de datilógrafa, como as novas centrais terminaram com os telefonistas, também os robôs deixarão atrás de si o cadáver de várias profissões, algumas delas de grande prestígio atualmente.

Não havendo diminuição de emprego, e aumentando a riqueza produzida com a ajuda dos robôs, a questão da sobrevivência Estado Social e da Segurança Social não se coloca, a não ser, curiosamente, de outra forma. Como redistribuir o excesso de riqueza produzida pelos robôs – deixa-la apenas para os acionistas das empresas proprietárias destas máquinas, ou taxa-la e redistribuí-la como fazemos com a riqueza produzida por mãos humanas. Se assim for, como tudo o indica, que novos impostos, taxas e contribuições criar? Ou será suficiente aumentar o imposto sobre lucros de certas indústrias e serviços?

Mas a questão principal, a que se põe a cada país, como no caso da demografia, é a de saber se fica no grupo dos perdedores ou dos ganhadores. No mundo em transformação em que certas profissões serão substituídas por robôs ao mesmo tempo que outras, mais numerosas, surgem em torno da criação, desenvolvimento, produção e utilização de robôs, cada país tem de tomar medidas para não ficar do lado dos que acabam com saldo de emprego negativo e cuja população será forçada a emigrar.

Por isso é tão importante lançar estudos de prospetiva que nos ajudem a construir cenários e para cada um deles uma estratégia adequada aos meios disponíveis. Não é isso que fazemos em Portugal. Deixamos correr o marfim.

Por isso é natural que na próxima década os portugueses continuem a alimentar o mercado de trabalho de outros países.